Utopia ou de como ressuscitaram a política.

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É cada vez mais surpreendente o sinuoso percurso da história. Quem diria que hoje em dia não há mais imperialismo. Nem os Estados Unidos está fascinado com o seu umbigo. Amor antigo. Narcisismo vasto. Não se fazem mais guerras por interesses comerciais.

É notável como as pessoas sempre se cumprimentam, não importando o dialeto ou a língua que falem. Realmente é incrível como as pessoas são fraternas e como organizam seu tempo e valorizam as amizades. Sem dúvida, é impressionante como as pessoas não passam pelas conhecidas sem abraçá-las.

Como o assunto predominante nas rodas de bate-papo é a nova paz estabelecida, as soluções encontradas com os amigos, o churrasco do fim de semana e como foi maravilhoso o dia de trabalho agora que o chefe descobriu sua imensa potencialidade naquela área que você tinha vontade de se transferir há tempos.

É tremendamente interessante o quanto as pessoas estão felizes depois que o Estado declarou-se inválido e determinou que não mais normatizaria mais nada. Extinguiria as polícias e as forças armadas, todos os meios de coerção. Determinou que as pessoas se virassem para constituirem um novo consenso: foi demolido os contratos sociais.

Tudo agora será regido pela ética e não por leis incólumes que só se prezam a favorecer os mais influentes. Tudo agora será fruto de acordo entre as partes, obrigatório, pois se não houver acordo nada poderá ser feito. As pessoas se viram obrigadas a respeitar umas as outras, pois sem leis, essa é a única sobrevivência.

Não haverá mais guerras religiosas, pois chegamos a conclusão de que adoramos um mesmo ente em formas diversas. Inclusive foram todos os cultos transferidos para a praça, ao céu aberto, pois foi construído um consenso entre os irmanados, apostolados, profetizados e noviciados. Ficou determinado que as religiões poderiam suportar todas as suas diferenças e que se pronunciariam irmãs e iguais, conforme o desejo de todas elas.

Ficou também esclarecido que extinguiria-se toda a autoridade e hierarquia anterior das igrejas e doutrinas e que qualquer esclarecido ou iniciado em quaisquer delas estava apto a todas as outras numa sequente trocas de experiências. Embora tenha ficado pendente a questão da reencarnação: se o homem reencarna? Se não reencarna? Se em homem? Se em animal? Se só a alma reenalma? Ou se só a carne reencarna? Ficou decidido que o fiel teria o direito de saber isso ao desencarnar. Posição apoiada por todos.

É claro que com o fim dos Estados, os partidos políticos perderam a sua função e acabaram se tornando liceus literários ou agremiações esportivas, cabe dizer que muitos viraram ONG’s. Os radicais do PCO, PSL, Novo, PSTU, por exemplo, especializaram-se em lutas olímpicas. Uns velhos caciques do MDB e da ARENA se tornaram poetas.

Tudo ficou muito melhor.

Sensação

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Foto de Adonyi Gábor no Pexels

Lépido aroma de bombons, Garota!

Pela via Lacta,

Choco, meu cachorro, late doce.

Saboreia a barra calmamente.

 

Vinho de longe

Num ônibus champagne.

Árvores de guaraná nos saúdam pelo caminho

Em tonalidades café.

À la vita

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Photo by Aidan Roof from Pexels

Habilitar a vida

Vive-la sem remorso

Gastar o tempo

Ganhar a vida

 

Perder as certezas

Multiplicar as dúvidas

Dividir os receios

Somar esforços e

Subtrair do nada

 

Viver é resistir

Suportar as alegrias

Comemorar as tristezas

Matar o equilíbrio

 

Vida, vida porque me persegues

se os teus motivos não me contas

se és incerta

e muito te amo

mas nada dizes

só coexistes

pulula, pula, pulsa

dentro de mim

Ansiedade

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Photo by Bhavitya Indora from Pexels

A ansiedade ou angústia é, sem dúvida, um motivatriz imperioso tanto para construir e acelerar a constituição de institutos, sejam estados nacionais, sejam personalidades, quanto para destruir esses mesmos imperativos categóricos pessoais, legais ou estruturais.

O ser angustiado é o que mais se determina em produzir. Isto quando não é preso pelo contramovimento arquitetado pelo mesmo sentir. O ser angustiado não pondera, faz. E quando erra, conserta muito mais rapidamente que os outros, pois por ela se move.

Vivemos numa sociedade de medos paralisantes e cada vez menos angústias. O que é um dado ruim, pois tendem a lentidão as histórias pessoais dos incautos covardizados pela indústria do medo que impera em nossa sociedade. Hoje, mais profundamente que no Feudalismo, o sujeito pode até morrer de inanição, mas resiste em sair pra rua, para o espaço público.

É necessário que tenhamos angústias, tesão em fazer as coisas. É vital que vivamos a cada momento com o maior prazer possível e angustiados  por um novo dia. Só quando vivermos assim é que será possível reformar todo o entendimento das sociedades e tornar viável um novo entendimento estrutural.

Não é possível conseguir viver num mundo melhor se não tivermos uma extrema, constante e insuportável angústia por justiça. Uma sede de democracia plena e uma fome de liberdade. É preciso viver organicamente a própria história, avaliá-la por uma filosofia da história a critério próprio. Igualmente necessário viver intensamente a historia de seu grupo, avaliando-a segundo critérios coerentes. E finalmente, abreviando, é vital viver a história da humanidade, com um espírito crítico e autocrítico exacerbado.

Mais um pseudo-poema para o, quem sabe, bem futuro livro?

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E seguimos assim…

inconsequentemente…

nos fazendo felizes

Pelo menos nada me parece mais feliz

que te amar

 

Te amar é um destino

insondável e maravilhoso

como o mergulho de um asteróide

em um buraco negro

e a explosão de uma estrela

ou o nascimento de uma supernova

 

Transcende a qualquer razão

ou emoção

estar ao teu lado

Transcende ao mundo

Supera a realidade

O momento supera o momento

e o sentimento sempre supera a si mesmo

Te amar é tudo e não há fim

Um recorte sobre A Condição Humana pra criar grilos na cabeça e borboletas no estômago

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Achei interessante colocar um anexo de um projeto pra que possamos, cada um consigo mesmo, com o(s) próximo(s), discutir essa alternativa realidade exposta por Hannah Arendt em A Condição Humana. Aqui estão os conceitos principais muito resumidos, a origem e microconsiderações:

“A Condição Humana (The Human Condition), publicada em 1958, pretendia, portanto, com base numa antropologia filosófica, responder à pergunta que fora deixada sem resposta em Origens do Totalitarismo: em que condições um universo não totalitário é possível? A análise toma por objeto a vita activa (vida ativa em oposição ao que a filosofia tradicional chamada de vida contemplativa), e a vê segundo três modalidades fundamentais: trabalho, obra e ação. Tomado no processo biológico das necessidades e da sua satisfação, o trabalho é uma atividade indefinidamente repetitiva, voltada para a satisfação das necessidades vitais: só produz o que é perecível. É à obra que cabe produzir coisas duráveis, artefatos e objetos que não sejam aniquilados assim que consumidos. Mas essa durabilidade é ainda relativa e está submetida, em ultima instância, à utilidade e ao ciclo dos meios e dos fins. Resta, pois, a ação única capaz de transcender o ciclo da necessidade vital e da cadeia infinita dos meios e dos fins. Inseparável da palavra, a ação é revelação do quem num espaço público de surgimento em que cada um é visto e ouvido por outros. Embora não seja privilégio apenas do ator político (no sentido estrito do termo), a ação enseja a constituição de um espaço público – distinto do domínio privado – em que se estende a rede das relações humanas. A condição humana de pluralidade, correlata da ação e da palavra, é para Arendt um verdadeiro conceito fundador que se encontra em todas as etapas de sua análise. (…) Mas toda a dificuldade é que a ação que nos insere no mundo não tem outra validação além do seu próprio aparecer. Não deixando atrás de si – como já sabiam os gregos – nenhum produto fabricado, introduzindo os homens num tecido de relações que eles não dominam, a ação é eminentemente frágil, seus resultados são imprevisíveis e não podem ser desfeitos”. (HUISMAN, 2001, p.60 e 61)

Como pode-se ver a filosofa liberal se contrapõe a uma desvirtuação que com o tempo o liberalismo assumiu como uma de suas linhas principais: a economia (coisas da casa) como mais importante que a política (coisas da cidade). De tal modo que a política revista por neoaristotelismo como tudo (Hegel afirmou, por exemplo, o que está em todos os lugares não pode ser distinguido como um ser ou objeto ou ideia particular em lugar nenhum) se tornou efetivamente um nada porque não existe mais independentemente; é economia política.

Definições pra se pensar

Pincei de um dicionário que fiz com amigos algumas definições pra se pensar: (aqui não afirmamos nada pra convencer ninguém, acreditamos que cada um deve refletir e encontrar a sua verdade particular que não o faz dono da verdade, porque essa ou é inexistente, inalcançável ou impalpável)

REALIDADE: 1.Nome dado a uma ilusão específica e dominante; 2.Palavra usada para desqualificar os idealistas; 3.Conjuntura específica de uma pessoa ou de um grupo a qual se deseja submeter todos os outros, mas não necessariamente a pessoa ou o grupo que a deseja aplicar; 4.Uma ideia niilista de que as coisas não são como não são e nunca poderão ser.

CONTRADIÇÃO: 1. Movimento inicial e básico do pensamento; 2. Primeiro e grande instrumento da evolução da história; 3. Tudo aquilo que instiga o ser humano a crescer; 4. Condição natural da sociedade; 5. O único diálogo possível.

ETIQUETA: 1.Cabedal de regras hipócritas que impede o ser humano de ser e parecer ser quem realmente é, isto é uma série inequívoca de castração à naturalidade do Homem; 2.Aquele pedacinho imundo de pano que quase sempre lhe provoca uma coceira incontrolável no pedaço de pele em que toca.

ETIQUETA: Frescura necessária, polidez artificial, educação postiça. Regras quase que todas obsoletas. Algumas caretas, outras ultrapassadas, mas ainda usadas por gente cafona. Marca, rótulo que faz você pertencer a certa casta (coisa mais que inútil, diga-se de passagem). Coisas (roupas, acessórios, etc.) com etiqueta = status (muitas vezes falso). [LUCIMEIRE SANTOS]

ETIQUETA: A ética das aparências; 2. A pequena ética (pequena no sentido nobre e não no quantitativo); Instrumento artificial e mesquinho utilizado por quem adora aparências. [EDUARDO HORÁCIO]

ABACAXI: Brincadeira de criança. Abaixa. Aqui com cheiro de fruta. Ali com voz de talvez. Solúvel ao ver. Sem solução. [ADORELA]

ABACAXI: O Rei das frutas é problemático. Tem uma esplendorosa coroa, mas vive a espinhar quem se aproxima com a sua carapaça dura. Fere aos que muito se aproximam e, sem saber o porquê, se queixa da solidão.

ABACAXI: Ácido por dentro, espinhoso por fora, como quase tudo. Por isso mesmo, necessário. [EDUARDO HORÁCIO]